sábado, 26 de maio de 2012

CAMÕES

POESIA LÍRICA DE CAMÕES

A obra lírica de Camões contém poemas feitos na medida velha e na medida nova. A medida velha obedece a poesia de tradição popular, as redondilhas, de cinco ou sete sílabas (menores ou maiores, respectivamente). São composições com um mote (um tema) que se desenvolve em glesa.
Os poemas em medida nova são formas poéticas ligadas á tradição clássica,sendo que os sonetos são composições poéticas de 14 versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos.
Nos poemas de medida velha, Camões está mais próximo da poesia popular medieval. Já nos de medida nova, aproxima-se de grandes vultos clássicos. A parte mais representativa da poesia lírica camoniana são os seus sonetos, todos em versos decassilabos em que apresenta um verdadeiro ideário do amor.

Camões demonstra, em seus sonetos uma luta constante entre o amor material, manifestações da carnalidade e do desejo, e o amor idealizado, puro, espiritualizado, capaz de conduzir o homem a realização plena. Nessa perspectiva, o poema concilia o amor como idéia e o amor como forma, tendo a mulher como exemplo da perfeição.






  •  A pintura de Marc Chagall, 1939, com o tema dos Encontros e desencontros que inspirou muitos artistas ao longo da História, sendo que um deles foi o poeta lírico Luís de Camões.

domingo, 13 de maio de 2012

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER

Amor é  fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões 
 
ANÁLISE DO SONETO
 

O soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís Vaz de Camões, trata de um conceito do amor na concepção do neoplatonismo, pois, acentua-se o dualismo platônico entre sensível e inteligível, matéria e espírito, finito e infinito, mundo e Deus. Este soneto é uma definição poética do amor. Como se Camões quisesse definir este sentimento indefinível e explicar o inexplicável, colocando imensos contrastes para caracterizar este “mistério”. Para Camões, o Amor (com A maiúscula) é um tipo de ideal superior, perfeito e único, pelo qual há o anseio de atingi-lo, mas como somos imperfeitos e decaídos, somos ao mesmo tempo incapazes de chegar a esse ideal. O amor é visto, então, como um sentimento que envolve sensações e que ocorre quando existe um senso de identidade entre pessoas com identidades bem definidas e diferenciadas. Existe a dualidade da incerteza do amor “físico” (com a minúscula) com o Amor ideal, assim o amor é um tipo de “imitação” do Amor, na realidade o autor procura compreender e definir o processo amoroso. Conceituando a natureza paradoxal do amor, o soneto ressalta em enunciados antitéticos, compondo um todo lógico, o caráter paradoxal do sentimento amoroso. Esclarecendo-se, entretanto, que tais contradições são, por vezes, aparentes, pois, a segunda pane de cada verso funciona como complemento da primeira, enfatizando-a por intermédio da aproximação de realidades distintas.